11/09/2008

Língua escrita e oral



Freqüentemente, sinalizo nas redações o seguinte: apropriado para a linguagem oral. O que exatamente quero dizer com isso?

As línguas são organismos vivos que estão em constante mudança. Todos os dias nascem novas palavras, novos usos para as palavras já existentes, novos empréstimos, enfim, diariamente, a língua se modifica. A língua oral é aquela que usamos para a comunicação mais imediata, mais urgente. Portanto, é a língua que mais sofre modificações. A língua escrita, ao contrário, é fruto de uma reflexão. É a língua que leva maior tempo para se modificar.

Outro dia, ouvi do Prof. Evanildo Bechara a seguinte analogia: em casa, costumamos nos vestir de maneira mais simples, sem maquiagem, salto alto ou artifícios. Andamos de roupa caseira, simples, confortável. Quando saímos, procuramos cuidar um pouco mais da aparência. Colocamos uma roupa melhor, sapatos, penteamos o cabelo com maior cuidado, etc. E se vamos a uma festa, então é que nos arrumamos mais ainda. E assim acontece com a língua oral e escrita. A língua oral é aquela do cotidiano, usada para as nossas necessidades mais imediatas. Já a língua escrita, ao contário, pede uma elaboração maior. Isso porque, como já foi dito aqui, a língua escrita não conta com os mesmo recursos da linguagem oral (os gestos, a expressão facial, o tom de voz). Temos que ser mais claros, mais explícitos e também dominar melhor os recursos da língua escrita se quisermos ser compreendidos.

É claro que estou tratando aqui da língua que deve ser utilizada numa dissertação, por exemplo. Não estou falando da literatura porque nesse caso o objetivo do escritor é outro e a sua liberdade para usar a língua maior. Voltaremos a falar desse assunto em outro post.

Para conhecer um pouco melhor o assunto, leiam este artigo da Profa. Alfredina Nery:

Língua escrita e oral
Não se fala como se escreve



Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi iscrevê.

O comentário é do humorista Jô Soares, para a revista Veja. Ele brinca com a diferença entre o português falado e escrito. Na verdade, em todas as línguas, as pessoas falam de um jeito e escrevem de outro. A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da língua e é com esse fato que o Jô brincou.

Na língua escrita há mais exigências, em relação às regras da gramática normativa. Isso acontece porque, ao falar, as pessoas podem ainda recorrer a outros recursos para que a comunicação ocorra - pode-se pedir que se repita o que foi dito, há os gestos, etc. Já na linguagem escrita, a interação é mais complicada, o que torna necessário assegurar que o texto escrito dê conta da comunicação.

A escrita não reflete a fala individual de ninguém e de nenhum grupo social. Por essa razão, a fala e a escrita exigem conhecimentos diferentes. A maioria de nós, brasileiros, falamos, por exemplo, "Eli me ensinô". O português na variante padrão exige, no entanto, que se escreva assim: "Ele me ensinou". Essas diferenças geram muitos conflitos.

A leitura de um trecho do poema de Antonino Sales, "Malinculia", mostra as interferências da fala na escrita e como elas não anulam a expressividade poética de suas imagens.

Malinculia, Patrão, É um suspiro maguado Qui nace no coração! É o grito safucado Duma sodade iscundida Qui nos fala do passado Sem se torná cunhicida! É aquilo qui se sente Sem se pudê ispricá! Qui fala dentro da gente Mas qui não diz onde istá! (...)

(BAGNO, Marcos. "A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolingüística)

A língua muda, ainda, conforme o grupo social, a região, e o contexto histórico. São as chamadas variações lingüísticas. A gíria e o jargão são algumas dessas variações.


*Alfredina Nery Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Janaína,
Obrigada pelo seu comentário a respeito do meu texto. Também gostei muito de visitar o seu blog, e achei seus textos muito esclarecedores. Parabéns! Vou acrescentá-lo à minha lista de blogs recomendados. um grande abraço da
Claudia

Janaína Pietroluongo disse...

Obrigada, Claudia. É bom encontrá-la aqui na blogsfera.
Um abraço,
Jana