31/07/2008

Um pouco sobre método


Todos nós já ouvimos falar sobre metódo (meta= através de, odos=caminho). Do ponto de vista da lógica, método "é o conjunto dos meios ou processos empregados pelo espírito humano para a investigação, a descoberta e a comprovação da verdade. Método implica, assim, uma direção, um rumo, regularmente seguido nas operações mentais...distinguem-se dois métodos fundamentais de raciocínio: a indução (que vai do particular para o geral) e a dedução (que parte do geral para o particular)..."(Othon M. Garcia in Comunicação em Prosa Moderna). Além desses dois métodos, há outros subsidiários, como nos lembra Othon Garcia. São métodos que também contribuem para a descoberta e a comprovação da verdade: a análise, a síntese, a classificação e a definição.

E o que isso tem a ver com redação? Tudo. Se conhecermos os métodos, poderemos raciocinar melhor e também melhor organizar nossas idéias na hora de colocá-las no papel. É através dos métodos que chegamos ao conhecimento dos fatos e também dos argumentos que sustentam as nossas colocações.

Você já deve ter ouvido o professor mencionar algo como "cuidado com as generalizações", não? Pois bem, isso significa apenas que devemos ter o cuidado de examinar se os fatos são adequados ou suficientes para sustentar os nossos argumentos. Caso contrário, podemos chegar a generalizações falaciosas. E estas devem ser evitadas a todo custo. Para ficar mais claro, um exemplo do livro de Othon M. Garcia:

"Se recomendo a um amigo que não ande de bicicleta, porque, certa vez, ao fazê-lo, levei um bruto tombo, meu argumento é falho, pois as circunstâncias em que se veria meu amigo, se fizesse a experiência, poderiam ser bem diversas: diferença de idade, de hábitos esportivos, de senso de equilíbrio, e outras. Meu argumento não vale: os fatos que apresento como razões não são adequados...".

30/07/2008

Um pouco de lógica.


















Ontem eu comentei que para escrever era necessário primeiro ter idéias. E para ter idéias era necessário pensar. E qual seria a ciência que nos ensina a pensar? A lógica.

A lógica é a ciência que cuida da organização do bem pensar. E um dos aspectos da lógica é o que trata dos argumentos, das evidências que sustentam as nossas conclusões.

Vejamos:

A afirmativa “fulano é ladrão” vale tanto quanto a sua contestação “fulano não é ladrão”. São opiniões pessoais e ambas têm o mesmo valor. Se, no entanto, afirmamos “fulano é ladrão porque foi preso em flagrante assaltando a loja X ontem à noite”, essa afirmativa tem muito mais valor porque está apoiada num fato observado, comprovado.

Numa dissertação, as declarações que expressam opinião pessoal só serão válidas se forem devidamente acompanhadas por uma prova, uma evidência. Entretanto, nem todas as declarações necessitam de comprovação. Por exemplo:

1. Quando a declaração expressa uma verdade universalmente aceita;
2. Quando é evidente por si mesma (axiomas, postulados);
3. Quanto tem o apoio de autoridade (testemunho autorizado);
4. Quando escapa ao domínio puramente intelectual:

a) É de natureza puramente sentimental;
b) Implica a apreciação de ordem estética em que gosto não se discute;
c) Diz respeito à fé religiosa (não se provam dogmas).


Em uma dissertação é necessário estar atento às regras da lógica e evitar as reflexões superficiais. Caso contrário, a sua argumentação sairá prejudicada e o seu texto enfraquecido.

Para saber mais:
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u4.jhtm
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/convite.pdf

29/07/2008

Palavras e idéias

Quando peço aos alunos para escrever uma redação, uma das queixas mais freqüentes é “não tenho idéias”. Essa reclamação me leva a refletir: o que vem primeiro, as palavras ou as idéias?

Antes de escrever sobre um tema, é preciso pensar sobre ele. É preciso ter alguma idéia, alguma opinião sobre o assunto. Caso contrário, as frases formarão um amontoado sem sentido. É preciso ter idéias. Elas precedem as palavras. A grande questão para os alunos é “Como ter idéias?”. E a resposta é simples: é preciso pensar, é preciso conhecer o assunto, ler, refletir, formar uma opinião, e então sim, os alunos poderão começar a escrever um texto. Não há receita mágica, fórmula de bolo; para se ter idéias é preciso pensar. É claro que um bom vocabulário ajuda e muito a expressar melhor as idéias, mas o primeiro passo é a reflexão sobre o tema. E, muitas vezes, por tentar pular essa etapa, vejo alunos escrevendo redações pobres, recheadas de clichês, com repetição de idéias e parágrafos confusos.

Então, proponho a seguinte tarefa. Leia os textos abaixo e reflita sobre o seguinte tema:

O desmatamento da Floresta Amazônica é responsabilidade de todos.


Após a leitura e reflexão, escreva 10 frases contendo idéias diferentes. Não vale repetir a mesma idéia! Os meus alunos já sabem, podem enviar que eu farei comentários individualizados.

Textos para leitura:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u427439.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u421676.shtml

28/07/2008

Um certo livro...










"Escrever é estar no extremo
de si mesmo, e quem está
assim se exercendo nessa
nudez, a mais nua que há,
tem pudor de que outros vejam
o que deve haver de esgar,
de tiques, de gestos falhos,
de pouco espetacular
na torta visão de uma alma
no pleno estertor de criar".


João Cabral de Melo Neto


A citação acima é a mesma utilizada para abrir um livro que acho fundamental: Redação Inquieta, de Gustavo Bernardo. Esse é um livro de teoria de redação mas não é um livro só para professores. Ao contrário, é um livro para todos aqueles que querem aprender a escrever melhor. Segundo Gustavo Bernardo "As perguntas para quem, para que e por que escrever antecedem à questão do como escrever. Se a pessoa deseja escrever e tem o que dizer, preocupar-se com a forma correta é conseqüência lógica e ética mais ou menos natural. Se a pessoa não se pergunta para que ou por que escreve, tão somente reagindo à demanda da escola, também é natural que erre até na concordância verbal - se ela não concorda consigo mesma, o verbo é que não vai fazê-lo em seu nome...".

Longe de ser um livro didático, o livro é daqueles que nos ajudam a pensar. E, embora profundo, é de fácil leitura. Considero esse livro um dos mais importantes sobre o assunto e por isso gostaria que ele fosse a minha primeira sugestão de leitura.

27/07/2008

As razões do blog

"Aprender a escrever é aprender a pensar...".
Othon M. Garcia


Por que tenho tanta dificuldade para escrever? O que se espera de uma redação de vestibular? Quais são os critérios de avaliação dos examinadores do ENEM? Como fazer uma boa redação para o vestibular? O que tenho que aprender para escrever bem? O que é uma boa dissertação? O que significa "falta de coerência"? Como posso organizar melhor as minhas idéias?

Essas são apenas algumas das perguntas que ouço dos meus alunos de segundo grau. Preocupados com as provas de vestibular e com o ENEM, eles se sentem muitas vezes incapazes diante das linhas em branco de uma prova de redação. O mais espantoso é que o mesmo aluno que apresenta dificuldades em redação é falante e bem articulado, demonstrando um perfeito domínio da linguagem oral.

E é então que me pergunto: o que posso fazer para ajudá-los? Como posso “ensinar redação”? E o que é mais importante, o que posso fazer para que eles de fato aprendam a escrever melhor?

E por isso, decidi iniciar este blog. Este espaço é dedicado a todos os alunos da escola onde leciono. A idéia é que, utilizando uma ferramenta que eles conhecem bem, eu possa ensiná-los a redigir de uma forma mais clara e eficiente. Aqui, eles encontrarão dicas de redação, um pouco de teoria, resenhas de livros, textos interessantes, enfim, tudo o que de algum modo, seja relevante para o domínio da linguagem escrita. Além disso, semanalmente colocarei exercícios de redação.

Sugestões e comentários são sempre bem-vindos.